domingo, 29 de maio de 2011

O Mito John Wayne

Ana Cristina é cirurgiã de tórax e minha irmã querida. Também adora cinema e no texto abaixo, celebra com muita inteligência, o mito John Wayne. Acompanhe. Na verdade, ela também inaugura o espaço do TV tudo isso para resenhas e comentários sobre astros, estrelas e filmes, nestes mais de 100 anos de cinema no mundo!

Texto de Ana Cristina Pugliese de Castro:


Adoro John Wayne... Não surgiu, até hoje, ninguém nem parecido com ele. Deixou uma lacuna impossível de ser preenchida na história do cinema.

Em termos de grandeza, único nome que penso se equiparar é o de Clint Eastwood. Porém, são estilos totalmente diferentes.

Clint é perfeito em explorar seus (e nossos) demônios interiores, além de ser um artista maduro, plural, viril, e bom também com os "demônios exteriores".

Wayne parecia sempre não ter demônios interiores - os lindos olhos azuis transbordavam franqueza, coragem, justiça, simplicidade e sabedoria. Encarnou com perfeição o arquétipo do mocinho, do herói - e, meu Deus, como precisamos de heróis, com tantos vilões a nos assombrar pela vida afora!

Confundia-se com seus personagens, e por isso digo que John Wayne era o homem que sempre fazia a coisa certa, embora não se desse ao trabalho de fazer gentilezas; dotado de enorme bravura, senso de lealdade e de justiça, e um certo senso de humor; sempre galanteador, mas incapaz de não ser decente.

Encarnou a alma do cowboy como ninguém (mesmo que não atuasse num western...), e, tendo sido a conquista do Oeste fundamental na amálgama que moldou o país, o homem tornou-se um ícone da própria América.

Seu carisma, sua expressão às vezes brejeira, às vezes raivosa, o sorriso franco de quem nada tem a esconder, o andar másculo sobre as eternas botas, entre coldres, cartucheiras e todo tipo de armas simbolizam o país que cresceu sobre trabalho árduo, bravura, senso de Justiça e ódio à mentira.

Fico pensando que, para a patrulha do politicamente correto de hoje em dia, Wayne seria um prato cheio: sempre (muito) armado, fumando (por essa o ídolo pagou caro...), perseguindo índios, nada ecológico, ensinando crianças a atirar, e sempre pronto a não levar desaforo prá casa e resolver os problemas no braço. Iria ser censurado o tempo todo! Mais uma prova de que o mundo está piorando em vários aspectos...

Talvez ele não possa mais ser o símbolo daquilo em que a América se transformou. Ou talvez, o país esteja mesmo sem saber mais sua identidade.

Logo no início d'O Álamo, o personagem de Wayne diz para a mocinha: "Existe o certo e o errado, e existe escolher o certo e escolher o errado". Não sei se tenho mais saudade dele, ou de um mundo mais simples e sincero.


Crédito das Imagens: Divulgação da Paramount, Fox Filmes do Brasil e Universal/ youtube








Ana Cristina Pugliese de Castro, especial para o "TV tudo isso"


Clique no link abaixo e reveja o astro John Wayne, em um dos seus melhores momentos, no filme "Bravura Indômita", recentemente refilmado pelos Irmãos Cohen:

True Grit (1969) Trailer

Um comentário:

  1. Perfeito... O texto da Ana Cristina representa bem, a saudade e a carência que demonstramos sem os heróis antigos e diante dos heróis modernos, que passaram a legitimar safadezas e outros tipos de comportamentos ditos mais "reais". John Wayne era autêntico... Fumava e gostava de armas! Qual o problema disso? Hoje em dia, infelizmente, a sociedade brasileira assumidamente moderna é mais preocupada em condenar os comportamentos "errados" dos outros, do que analizar seu próprio umbigo. Aqui em Campos de Goytacazes, onde vivo, no interior do Rio de Janeiro, os falso moralistas são religiosos de ocasião, puxa-sacos da pior espécie!

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